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Aluna autista de 15 anos entra em medina na UFPR

Aluna autista de 15 anos entra em medina na UFPR

24 janeiro – 2019 | 7:07

Quando completar 16 anos em setembro deste ano, Natãmy Nakano estará quase no fim do primeiro ano do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná. A adolescente foi aprovada no vestibular da instituição este ano depois de concluir o curso técnico em Petróleo e Gás na mesma instituição no fim do ano passado. Diagnosticada com Síndrome de Asperger (um tipo de autismo) e com altas habilidades, a menina já aos dois anos de idade estava alfabetizada e dizia que queria ser médica.

Esse ano não foi a primeira vez que Natãmy foi aprovada na UFPR. Aos treze anos ela já havia conquistado uma vaga em Engenharia de Bioprocessos. No mesmo ano se tornou aluna do técnico em gás e petróleo da instituição e se “encontrou”. Apesar de extremamente inteligente, a vida acadêmica dela não foi fácil. “As escolas são muito conservadoras. No ensino fundamental eu me sentia perdendo tempo e as pessoas resistiam a fazer a reclassificação”, conta.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9394/96) prevê o tratamento especial de alunos com necessidades especiais, o que inclui o avanço de alunos com altas habilidades para séries mais adequadas a seu desenvolvimento intelectual. Natãmy, no entanto, diz que foi muito difícil conseguir a reclassificação, uma vez que as instituições exigem laudos médicos e uma intensa avaliação.

Quando chegou à UFPR, ela finalmente encontrou um ambiente “abundante de conhecimento, com professores mais qualificados”. Os colegas, conta, também são particularmente inteligentes. “Acho que para estar lá muitos podem até ter altas habilidades e não terem sido diagnosticados”, aposta.

Apesar da pouca idade, Natãmi não começa a graduação sem experiência. Ainda durante o Ensino Médio, a estudante fez iniciação científica em bioquímica, além de participar de simpósios e outras atividades típicas de quem já está na universidade.

TRATAMENTO ESPECIAL

Andreia e a filha, Natãmy: ambas tem Síndrome de Asperger. Foto: Tânia Martins.

Para Natãmi, as altas habilidades e o autismo são um desafio. Ela tem hipersensibilidade nos sentidos, o que a leva a sentir incômodo e até dor física com coisas que outras pessoas nem percebem. “Eu escuto o som do lápis da minha colega raspando no papel durante uma prova e me atrapalha”, explica.

O excesso de iluminação ou de pessoas também é um desafio para ela, que faz provas em uma sala especial, o que minimiza o desconforto. Outro desafio é lidar com o hiperfoco. “Fico três, cinco horas entregue a um assunto. Esqueço da vida, de comer”, diz. Nessas horas ela depende da mãe, que a interrompe.

A mãe de Natãmy, a tecnóloga Andreia Pichorim, entende bem a filha. Ela também tem Asperger e passou por muitas dificuldades para se formar. “Eu tive um tumor no cérebro e passei oito anos sem conseguir escrever. Fiz minha graduação toda oralmente”, conta.

Aos 41 anos, Andreia acompanha a filha na UFPR, onde faz doutorado em Engenharia de Materiais e Nanotecnologia. Também dá aulas em escolas do Estado como PSS (contratação temporária feita pelo governo) e faz graduação em Engenharia. Mãe solo, Andreia diz que a maior dificuldade é de interação social.

“Minha filha foi no banho de lama, mas não pode ir na festa dos aprovados. Ela, como eu, tem poucos amigos, porque temos uma dificuldade de nos relacionar”, explica. Natãmy concorda. “Eu não vou em festa porque o ambiente, o barulho incomodam”, conta. Outra dificuldade é o isolamento de quem tem autismo e é extremamente inteligente. “As pessoas admiram à distância. Mas ninguém convida para festa, se aproxima. Tem quem ache que somos loucos”, critica Andreia.

SERES INTERESSANTES

Engana-se que o interesse de Natãmy pela medicina se deve ao aspecto social da profissão. A jovem espera se especializar em pesquisa ou cirurgia, porque acha “os seres humanos extremamente interessantes”. Antes mesmo de as aulas começarem em fevereiro, a adolescente já vem estudando bioquímica. Ela pediu de aniversário o livro base da disciplina que fez na graduação quando ainda estava no ensino médio.

Ela não se vê trabalhando com autismo, muito embora goste de entender melhor o que tem. “O autista tem ligações no cérebro que deveriam ter sido desativadas na infância, mas não foram”, explica. Como Asperger, Natãmy está na ponta mais branda do espectro autista, mas tem dificuldades para entender ironia, ler expressões faciais. “Interpretação de texto é inferno para mim”, confessa.

Por conta da hipersensibilidade, ela e a mãe precisam evitar espaços muito tumultuados e não conseguem usar o transporte coletivo. Mas encontraram na UFPR um ambiente que tenta se ajustar às necessidades de Natãmy. “Já até entrevistaram ela no Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais”, conta. A expectativa de Andreia agora é que a instituição implante o mesmo tratamento na pós-graduação.

Fonte: Plural

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