Meio Ambiente

“Até 2070, o Pantanal acaba e a Amazônia perde metade da floresta”, diz Climatologista Carlos Nobre

Redação
05 dezembro – 2025 | 16:16
Árvores sendo consumidas pelo incêndio florestal que atige o Pantanal. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

O renomado especialista revela que eventos extremos superam as previsões científicas, com o Brasil em chamas e o Pantanal ameaçado de desaparecer em décadas.

Por Redação Rádio Pampa | 12 de setembro de 2024

O renomado climatologista Carlos Nobre, uma referência internacional em estudos sobre o aquecimento global, expressa profundo temor diante da atual crise climática. Segundo o especialista, a situação se agravou de forma explosiva, superando as projeções mais pessimistas da comunidade científica. Ondas de calor e secas intensas assolam o planeta, e o Brasil, em particular, enfrenta um cenário alarmante, com mais de 5 mil focos de incêndio ativos. Nobre alerta que todos os biomas brasileiros estão sob severa ameaça, e alguns, como o Pantanal, podem desaparecer em poucas décadas.

Crise Climática: Estamos Vivendo um Cenário Inédito?

Questionado sobre a similaridade da crise atual com eventos passados, Carlos Nobre é enfático: “Nesse nível não. Esse é o máximo que já experimentamos. A crise explodiu.” Ele destaca que o planeta registra a maior temperatura dos últimos 100 mil anos, um patamar nunca antes atingido desde o surgimento das civilizações, há dez mil anos. A intensidade e frequência dos eventos climáticos extremos são sem precedentes. Embora incêndios florestais tenham atingido países como Canadá, EUA e nações europeias no ano anterior, com causas predominantemente naturais (descargas elétricas), no Brasil a realidade é outra: entre 95% e 97% dos focos são de origem humana, muitos deles criminosos.

Poluição em São Paulo: Uma Combinação Perigosa de Fatores

A escalada dos índices de poluição em São Paulo é resultado de uma complexa soma de fatores. Nobre explica que, anualmente, nesta época, cidades altamente urbanizadas enfrentam o fenômeno da inversão térmica. Durante madrugadas e inícios de manhã frios de inverno, o ar quente na atmosfera superior impede a ascensão do ar frio, aprisionando a poluição gerada por indústrias, ônibus e caminhões. “Isso já traria enorme poluição, mesmo que não houvesse queimadas”, afirma. Contudo, a combinação dessa condição meteorológica com um número recorde de queimadas agrava drasticamente a qualidade do ar, criando uma situação crítica para a saúde pública.

Queimadas no Brasil: Desafios da Fiscalização e Ação Criminosa

A questão das queimadas no Brasil é mais intrincada do que parece. Carlos Nobre aponta que, em 2023 e 2024, houve uma significativa redução do desmatamento na Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado, indicando que as políticas ambientais do governo atual estão sendo “razoavelmente bem implementadas”. No entanto, a explosão dos incêndios sugere uma origem predominantemente criminosa. “Quando alguém bota fogo na floresta quando está seco e quente, as chamas se espalham mais rápido”, observa. Mesmo com a diminuição do desmatamento, grupos envolvidos em atividades ilegais, como o desmatamento ilegal e a grilagem de terras, continuam agindo, desafiando os esforços de controle e fiscalização.

Prevenção de Incêndios: Tecnologia, Fiscalização e Engajamento Social

O desafio na prevenção de incêndios é monumental. Nobre explica que o satélite, embora útil, detecta o fogo apenas quando ele já atingiu uma área de 30 a 40 metros quadrados, o que pode levar de uma hora e meia a duas horas após o início. “O criminoso bota fogo na mata em um minuto”, ressalta. Para combater essa “guerra”, é crucial o envolvimento dos próprios produtores agrícolas que são contra as queimadas, utilizando tecnologias como drones. Além disso, a polícia precisa intensificar sua eficácia no combate ao crime organizado, e o número de brigadistas deve ser significativamente ampliado. A combinação de tecnologia, fiscalização rigorosa e engajamento comunitário é essencial para proteger os biomas.

O Futuro do Pantanal e Outros Biomas: Um Alerta Urgente

Sobre a projeção da ministra Marina Silva de que o Pantanal atingiria um ponto irreversível até 2100, Carlos Nobre concorda, mas com uma visão ainda mais pessimista. “Acho até que ela foi otimista. Acho que o Pantanal acaba até 2070, sem falar nos outros biomas”, declara. A Amazônia, o Cerrado e a Caatinga também estão em risco iminente. Se o ritmo atual de desmatamento persistir, a Amazônia pode perder pelo menos 50% de sua floresta até 2070. O Pantanal, que já sofreu uma redução de 30% nos últimos 30 anos e está em processo de secagem, agora enfrenta a devastação causada pelo fogo, acelerando seu declínio.

Emissões de Carbono e o Ponto de Não Retorno Climático

Apesar dos alertas, as emissões de carbono continuam em ascensão, batendo recordes em 2022, 2023 e com projeção de novo recorde para este ano. Nobre adverte que, mesmo com uma aceleração drástica nas reduções, o aumento da temperatura média do planeta ultrapassará os 2°C, podendo chegar a 2,5°C até 2050. O cenário é desolador: “Mesmo que começássemos a remover 5 bilhões de toneladas de gás carbônico por ano da atmosfera, lá por volta de 2100 voltaríamos a um aumento de 1,5°C.” O objetivo inicial era não permitir que o aumento ultrapassasse 1,5°C. “Estou apavorado. Ninguém previa isso; é muito rápido”, confessa o climatologista, sublinhando a urgência e a gravidade da situação.

A Surpreendente Aceleração da Crise Climática: O Que os Cientistas Não Previam

A velocidade e a intensidade da atual crise climática pegaram a comunidade científica de surpresa. “Não, nenhum”, responde Nobre ao ser questionado se algum cientista havia previsto tal cenário. Ele revela que, no pior dos cenários projetados, o aumento de 1,5°C seria atingido apenas em 2028. Atualmente, milhares de cientistas estão empenhados em compreender e explicar por que o aumento da temperatura global superou tão rapidamente as previsões, evidenciando a complexidade e a imprevisibilidade dos impactos das ações humanas no clima da Terra.

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