O girassol é plantado no inverno, no período de entressafra, mas numa lavoura de Campo Grande o característico maquinário rural deu lugar a um pequeno estacionamento com muitos carros e centenas de pessoas fotografando entre os girassóis.
Há cerca de três semanas as redes sociais dos moradores de Campo Grande começaram a ser inundadas com fotos de pessoas entre girassóis. A cada foto postada, a curiosidade dos amigos: “Onde fica?” era a pergunta que todos faziam, e ainda fazem: foi assim que uma plantação de girassóis na capital virou ponto turístico recebendo centenas de visitantes todos os dias.
A lavoura de girassóis fica na saída para Sidrolândia, em Campo Grande. O produtor rural João Carlos Stefanello, dono da fazenda, tem mais três propriedades em cidades próximas onde planta girassóis como cultura de inverno, na entressafra. O plantio do girassol é rotativo entre as fazendas, por isso ela não está todo ano no mesmo local – mas quando é plantado na capital e a lavoura começa a florescer, acontece um pequeno fenômeno: pelo menos 400 pessoas visitam a plantação todos os dias.
As fotos com os girassóis começaram a chegar a outras cidades do estado e tudo tomou uma proporção maior do que o produtor rural esperava:
“Tem gente que vem fazer book lá de Sonora [município a 366 km da capital], vieram gestantes, noivas e noivos fazer book de casamento aqui. Tem gente de yoga que faz exercício no meio das flores. Teve algumas que até tiraram a roupa para a fazer imagens no estilo mais natural. Tem de tudo que você imagina e mais um pouco” diverte-se o agricultor.
Produtor rural pede respeito pela lavoura
João Carlos Stefanello explica que toma alguns cuidados para que as pessoas façam a visitação. No local não é cobrada entrada, porém, o proprietário pede respeito e cuidado com a lavoura: “Não é permitido colocar carros lá dentro, nem arrancar ou maltratar as plantas. É preciso respeitar o ambiente”. explica.
Pela proteção dos girassóis e dos visitantes
Ele também destaca que é importante avisar na sede quando alguém chega ao local, pois há a possibilidade de a planta estar com veneno, o que é prejudicial à saúde dos visitantes.
Apesar do pedido pela proteção dos girassóis, no meio da lavoura encontramos muitas plantas com flores maduras, quebradas e pisoteadas.
Ao chegar na lavoura, um pequeno espaço de terra nua está cheio de carros. De acordo com uma visitante que estava lá pela segunda vez, quando ela foi muitos carros e caminhonetes estavam estacionados em cima das flores. O espaço para carros lota, e então as pessoas deixam os veículos na beira da estrada vicinal que dá acesso ao campo.
Se tudo estiver ok, é só aproveitar a luz e tirar as fotos – que com esse cenário certamente ficam lindas. No momento em que nossa equipe chegou ao local, 36 pessoas estavam entre as flores fotografando com os girassóis.
“Nós não estamos acostumados”
Entre as grávidas que posavam para as lentes dos fotógrafos, estava a dona de casa Bianca Rezende. Grávida de Amanda, o filho Artur foi junto para participar do ensaio de gestante. Ela escolheu o campo porque viu fotos lindas nas redes sociais e quis as dela lá também:
“A paisagem é muito linda, nós não estamos acostumados a ter isso tão perto. As fotos ficaram maravilhosas”, conta.
“Selfie mesmo!”
“Vi muitas fotos de pessoas entre os girassóis, selfie mesmo, uma mais linda que a outra. Deu vontade de conhecer e então simplesmente pulamos no carro e fomos até lá” conta a produtora Ana Ostapenko. “Imaginei que deveria ser tudo muito lindo e realmente é, uma imensidão de girassóis até onde o olho enxerga, e o resultado foram fotos maravilhosas e lembranças inesquecíveis”.
“É uma energia boa, um ar diferente”
Ellen Ramos Prudente, de 21 anos, é acadêmica de jornalismo e visitou recentemente o campo amarelo. Ela disse que foi a primeira vez, apesar de já saber que a plantação existia e levou até a família que veio de outra cidade, para conhecer a lavoura:
“Foi a primeira vez. Em 2016 que também teve as flores. Eu fiquei de ir nessa época, mas perdi o prazo e não consegui. Girassóis são as minhas flores favoritas desde que eu era criança. Lá é apaixonante, muito lindo, fiquei encantada”, conta.
“O contato com a natureza é incrível. O girassol desperta um sentimento diferente em cada pessoa. É uma energia boa, um ar diferente. Para mim, é energia muito boa porque me lembra da infância”, explica a estudante.
“O amo está no ar”
Saulo Maciel foi ao campo de girassóis acompanhado pela namorada, Karina. O casal comemorou o Dia dos Namorados no local com muita música e paixão.
“São flores lindas que com suas cores iluminam todo o campo e dão brilho aos olhos de quem contempla. Parece que as emoções se afloram e o amor está no ar”, explica Saulo.
Turma do tereré
Do meio das flores vinha o som de risadas. Perto de onde estava nossa equipe, 4 amigas se divertiam enquanto celulares eram apontados para as selfies. Perto delas, no carro, uma garrafa térmica de água e a cuia de tereré. As 4 são jogadoras de futebol americano, viram as fotos na internet e resolveram tomar o tereré do dia num local diferente: aproveitando o dia lindo de sol, foram se reunir na lavoura:
“Mandaram a localização pra gente, disseram que era de graça e só precisava cuidar dos girassóis e então resolvemos conhecer, isso tudo é muito lindo” conta Luiza Cunha, professora de educação física.
Colheita próxima e girassol colorido
Se você gostou e quer conhecer, é melhor correr: a colheita será no mês que vem. O agricultor explicou ao G1 que leva cerca de 60 a 70 dias para a planta ficar florida. O momento de colher é quando toda a flor fica escura. Questionado sobre o futuro da área e possíveis culturas, João Carlos disse que tem interesse em plantar girassol colorido após o término dessa safra.
Produção de girassol ainda é tímida no Brasil
Produção de girassol ainda é tímCom as sementes importadas da China e dos Estados Unidos, principalmente, Stefanello explica que no Brasil o investimento não é tão grande nesse tipo de cultura. Apesar de existir, ainda falta muita coisa a ser pesquisada:
“O brasil está começando com esse tipo de plantio. Já existe uma pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa), mas é muito pequena em relação à necessidade do país”, afirma.
As sementes de girassol são usadas na produção de óleo, farelo para ração de animais e amêndoas para alimentação de pássaros.
É difícil não se render
No fundo da foto, tem gente. Impossível virar para um lado onde não tenha alguém – e parece que toda a luz refletida nos girassóis contagia essas pessoas. Todos estão sorrindo, felizes, registrando o momento. Depois de entrevistas colhidas e registros feitos, esta repórter que vos escreve também se achou no direito de registrar o momento e guardar para si uma lembrança desse lugar.
Visitar os girassóis é uma verdadeira experiência. É difícil não se render à paisagem e se dar o direito de sair de lá realmente renovado, seja pelo contato com a natureza, seja pela luz que o ambiente – sem distinção – oferece de graça a quem vem.
Como chegar?
Na saída para Sidrolândia, assim que passar o frigorífico conta-se em torno de 7km. Nessa altura existe uma placa à direita indicando uma usina. Essa é a entrada que dá acesso ao campo. Seguindo pela estrada de chão, logo após a usina já é possível ver o começo da lavoura de girassóis.
* Supervisionado pela jornalista Jaqueline Naujorks.
(Fonte:G1-MS)