“Eu não sei bem qual a grandeza do universo, mas não há palavra no universo que seja maior que o verbo amar”
Contada de forma lúdica, a história do medroso e atrapalhado Afrânio, que está prestes a casar-se com a romântica Maria Flor, mas, por destino do além, casa-se com a fantasmagórica Moça de Branco, reservou ao seu final um dos momentos mais marcantes do 16º Festival América do Sul, que está sendo realizado em Corumbá. A encenação teatral de Casatória C’a Defunta emocionou a todos – plateia e atores – e terminou em lágrimas incontidas.
A performance do elenco da Companhia Pão Doce, de Mossoró (RN), e o desenrolar de um causo do imaginário popular envolvendo quem já partiu desta para melhor e os que ainda respiram por esses ares, divertiu o público presente à Praça da República, no centro da cidade, sábado (28) à noite. E, ao mesmo tempo, criou um clima de encantamento entre reflexões sobre o sentido do amor, respeito e amizade entre os mundos real e espiritual.
Quando a peça se encerrou, o público se levantou e os aplausos foram sequenciais por alguns minutos, emocionando os atores e quem assistiu. Lágrimas, abraços, agradecimentos, selfies e corações palpitantes. Envolvimento mutuo e fraterno de quem se entregou à crença e o repensar sobre a vida e a morte, mesmo numa brincadeira animada por gracejos, humor físico e poeticamente rica – em favor da cultura popular e de sua preservação!
Vôte!
A peça Casatória C’a Defunta foi apresentada no centro da praça, a pouco metros da Matriz de Nossa Senhora da Candelária – padroeira de Corumbá -, construída em 1885 e recentemente restaurada. Enquanto se desenrolavam as peripécias de Afrânio e Maria Flor, em silêncio profundo da ávida plateia, ouvia-se os badalos dos sinos da histórica igreja projetada pelo controvertido Frei Mariano – aquele que, segundo se fala, jogou praga na cidade.
A apresentação em Corumbá marcou também o retorno da companhia às ruas, após a pandemia – período em que os atores trabalharam online de suas casas, por meio de adaptação audiovisual e gravações em self tape, reinventando a fazer teatro em tempos isolados. Pão Doce já se apresentou anteriormente no Estado (foi em 2016, em Campo Grande, em evento do Sesc) e percorreu 19 estados e 121 cidades.
Texto: Silvio de Andrade/Fasp 2022
Fotos: Bruno Rezende