sábado, 20 abr 2024

Kerollay Costa: Racismo

Kerollay Costa: Racismo

02 julho – 2020 | 15:15

A luta contra a dor da alma, que chega e se alastra, da última vez que fomos lanchar e me pediram para pagar antes de comer, quando logo outra pessoa chega para atender, e pode livremente se sentar sem pagar na hora, entendi, é por causa da minha história?

Era uma breve foto, como aquelas de casais que vemos felizes em alguns locais, mas nesse dia ele me rejeitou, havia tirado as tranças e o cacheado grande apareceu, fazendo com que a foto se tornasse motivo de vergonha, quando na verdade, namorar uma negra não era, nem deveria ser uma grande desonra.
Era um dia comum, e parecia ser mais uma amizade sendo formada, com alguém que talvez firmaria um romance, por que não? Até que ao final, antes de qualquer reação minha, ouço: “Você é um cara legal, se você não fosse preto, até te namoraria. ”

Era mais um desses dias em que saía do trabalho, Advogado formado e já trabalhando no escritório há muito tempo, muito respeitado por quem convive comigo, até que alguém me encontra no centro, vestido ainda de terno por conta do trabalho resolvendo normalmente coisas cotidianas quando alguém me para “Moço, você é o segurança daqui? ”

Apareci em uma tarde dessas que a gente sai flutuando de casa, depois daqueles longos meses em que dinheiro fiquei reservando, pronto para ter o carro dos
sonhos, pronto para ver minha família se aconchegar, quando avistei o que eu escolheria, consegui para o vendedor apontar, logo em seguida, ouvi o que eu não esperaria: “Não senhor, tenho outros mais baratos, venha que vou lhe mostrar. ”

Era uma escola muito aclamada, muitos alunos, muitas pessoas daquele lugar gostavam, cheguei então para entregar meu currículo, primeiro ano em cidade nova, interior, diferente da cidade grande já acostumada, ouço: “Seu currículo é bom, mas não saberei lidar com os pais que vierem reclamar de uma professora como você. ”, ou pior ser aconselhada, depois de muito frustrada “Melhor alisar o cabelo, negra aqui no interior não é tão aceita como em outros Estados. ”, engoli o sofrimento calada.

Entrei no mercado e como de costume, procurei a parte de doces, minha predileta, mas nunca imaginei saber o que pensavam de mim, de forma tão indiscreta: “Fica de olho nessa daí. ” E saber que estava sendo vigiada, nem sequer sabiam meu nome, quanto menos meu caráter, mas minha cor de raça, aos olhos deles, era falta de dignidade.
Era um começo de mês tranquilo, resolvi procurar uma roupa para comprar e entrei em uma loja, cumprimentei e pedi para a vendedora me auxiliar, e para minha surpresa, as roupas mais interessantes não eram mostradas, muito menos as caras, eram só roupas baratas, as menos desejadas, nesse dia, de súbito, acolhi a calça mais cara que ela me mostrou, paguei à vista, levei para casa e nunca usei, tudo para tentar demonstrar, que eu não era digna de pena.

Os desfechos são sempre os mesmos: tristeza e humilhação, anos de história, anos de luta, anos de escravidão, agora da alma, da solidão. Que se acorrentam nas vidas que sofrem com pessoas que tem falta de amor no coração, que proferir maldade é sua religião. Por um mundo com menos preconceito, porque de denegrir o outro pela sua cor: Ninguém tem direito. Esse é texto é por Miguel, por Ana, por nomes, histórias, rostos e família, por todos que sofrem no dia a dia…

(TEXTO BASEADO EM RELATOS REAIS DE PESSOAS PRÓXIMAS, QUE
CONFIARAM SUAS HISTÓRIAS PARA CRIAÇÃO DO TEXTO)

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